Para milhões de pessoas que atualmente estão desempregadas ou que um dia tenham passado por essa desagradável e constrangedora situação (como eu algumas vezes na vida),  a indiferença  contida no título deste item poderá parecer-lhes desrespeitosa e até mesmo ofensiva. Mas não é nada disso. É uma provocação para você também refletir o quanto tal situação pode ser comparada com uma conhecida e repetida frase “Há mal que vem para o bem”.

Minha primeira experiência com uma demissão foi quando era ainda muito jovem, 16 para 17 anos. Na ocasião, apesar do susto, nem me importei com o fato, pois o ambiente de trabalho já não me agradava mais, não pelos colegas, porém, mais pela falta desafios profissionais, pelo mau aproveitamento de minhas potencialidades e pela maneira negativa e indiferente com que o chefe do escritório se relacionava comigo.

Na época, minha vida profissional era uma desmotivação só, mesmo trabalhando em uma grande empresa (hoje falida), com um  bom salário, benefícios, etc.  Tinha saído de uma pequena empresa (um escritório de contabilidade – que ainda hoje existe, é atuante e um dos melhores da cidade onde resido), mas que possuía um excelente ambiente de trabalho e onde eu aprendia tudo.

Era grande escola para mim. Saí, em comum acordo com o antigo patrão, para aplicar todo o aprendizado que tinha adquirido nesde escritório, visando um natural crescimento profissional. Aliás, foi o próprio patrão que me apresentou a nova oportunidade – pensando, é claro, que seria para o meu próprio bem. E era para ser, mas, infelizmente, encontrei a figura do mau chefe. Preciso dizer algo mais? A demissão para mim, naquela ocasião, funcionou como uma espécie de “tive alta”, por assim dizer.

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No mesmo dia, caminhando de volta para casa, encontrei um amigo que tinha trabalhado comigo no emprego antigo, no escritório de contabilidade, e que por essas coincidências da vida também estava saindo de lá  para uma outra e ótima oportunidade – exatamente como acontecera comigo anteriormente.

Quando esse amigo soube de minha “desgraça”, ou seja, da minha demissão, começou a rir e dar “Graças a Deus”. Disse-me: eu só vou poder sair do escritório quando eu encontrar um substituto à altura. E, se não achar logo esse substituto, vou perder a oportunidade de ir para uma grande empresa. Ou seja, na prática, eu acabara de ser recontratado. Fiquei desempregado 30 minutos.

Resumo: se naquele dia eu não tivesse sido demitido e por já estar trabalhando em uma grande empresa, dificilmente eu seria convidado para voltar para o antigo escritório de contabilidade, pois eles pensavam que seria um retrocesso para mim e que eu estaria muito bem onde estava trabalhando. Portanto, no meu caso, o episódio dessa demissão foi um mal que veio para o bem. Voltei para o emprego anterior e voltei a aprender mais e mais, preparando-me ainda mais para novas oportunidades de crescimento e realização profissional no futuro – já que era muito jovem.

Numa outra ocasião de demissão eu estava em uma grande empresa, um Banco. Já era casado, com dois filhos pequenos, recém saído da faculdade. Ganhava relativamente bem e não queria ser demitido, apesar de não estar nada feliz com a forma como estava sendo aproveitado na empresa. Alimentava a esperança de, lá mesmo, encontrar novos desafios profissionais, pois o ambiente de trabalho era excelente para mim e desfrutava de muito respeito e admiração entre os colegas e chefias em geral. Trabalhava no Banco há 14 anos.

O Banco começou a passar por dificuldades, o que ensejou na ocasião profundo processo de ajustes em sua estrutura organizacional. Ingenuamente, acreditava que pela minha boa folha de serviços prestados ao longo dos anos e pelo respeito e admiração que tinha entre os colegas e chefias em geral, a minha demissão seria uma coisa quase que remota e que seria certamente aproveitado em muitas outras áreas da organização.

Santa ingenuidade! Num determinado dia, sem qualquer prévia explicação ou conversa de quem quer que seja, recebi uma lacônica carta de dispensa. No dia seguinte estava desempregado.

Isto foi no final do mês de abril de 1985 e logo no começo de julho do mesmo ano estava iniciando minhas atividades numa empresa, de São Paulo, a Semco S/a, muito conhecida no mercado empresarial e, principalmente, entre os profissionais de RH, no exato momento em que ela passava pelas profundas transformações e inovações da área de RH, capitaneada pelo seu irreverente e polêmico diretor-presidente.

Sabe o que aconteceu com Banco? Foi liquidado pelo Banco Central meses depois que eu havia sido demitido.

Resumo: Se naquela ocasião eu não estivesse disponível no mercado dificilmente eu seria apresentado por amigos como um dos candidatos para ocupar a posição de Gerente de Relações Trabalhistas da empresa Semco S/A, na época atuando fortemente como uma indústria metalúrgica. Afinal, toda a minha carreira em RH, até aquele momento, tinha sido desenvolvida na área financeira.

Mais uma vez, para mim, o episódio da demissão foi um mal que veio para o bem. Participei de um dos mais revolucionários processos de mudanças e inovações em termos de gestão de pessoas que a área de RH em uma empresa poderia experimentar ao longo de sua história. Não quero e nem vou aqui entrar no mérito de cada processo, pois sou suspeito, já que fui um dos participantes ativos da história, que só me deu muito orgulho e satisfação.

Na minha opinião e pelas experiências vividas, na própria pele e no acompanhamento de centenas de outros casos com outras pessoas ao longo de minha vida profissional, estou convencido de que você pode e deve procurar transformar em bem o mal que uma demissão possa representar em sua vida.

A primeira reação que você deve ter é procurar superar o trauma do desligamento, encarando o fato como algo absolutamente normal no cotidiano das pessoas e das empresas.

Não perca tempo buscando respostas do por que foi você o escolhido e não os outros, exceto se isto for feito com o objetivo de identificar aspectos  em que você pode, pessoal ou profissionalmente, melhorar. Do contrário, a busca de justificativas só lhe trará amarguras. Não se sinta um injustiçado, ainda que isso possa ter acontecido. Bola pra frente! Você apenas perdeu o emprego ou trabalho – e não é para sempre – tenha certeza disso.

E mais. Será que a sua demissão não foi assim uma espécie de “alta médica” como foi para mim a minha primeira demissão? Será que você não estava em um daqueles ditos “empregos armadilha”, como eu estava no Banco, ganhando bem, bom ambiente com os colegas, etc., mas insatisfeito com minha condição profissional?

Não terá sido o seu caso de que a sua empresa tomou a decisão que você gostaria de já ter tomado, mas estava protelando há algum tempo, com medo de assumir riscos e depois, mediante um fracasso ou insucesso, ficar se culpando pela decisão tomada?

Proponho uma metáfora futebolística. Uma demissão pode ser vista como um pênalti mal marcado pelo juiz. Por mais injusto e inoportuno que possa parecer, erros do juiz fazem parte do jogo e podem ocorrer a qualquer momento, sendo difícil sua reversão. Nem sempre significará uma derrota definitiva e insuperável para o time penalizado.

Muitas vezes a demissão, assim como um pênalti, podem ter sido bem marcados, como foi para mim no episódio da primeira demissão, já que eu a provocara. E isso não é para desolá-lo, se está sendo ou foi o seu caso. Todos os erros oferecem um efeito pedagógico muito importante. Basta você reconhecê-los e tentar aprender com eles.

Por outro lado, quantas e quantas equipes que, diante de um pênalti, mal marcado ou não pelo juiz, reagiram e se superaram em campo, revertendo o fato a seu favor no próprio jogo ou nas partidas seguintes, tendo sido até decisivo para a conquista do campeonato?

A pior conduta, em ambas as situações, seria se abater de forma radical, “entregando a partida”, por assim dizer, tomando atitudes e assumindo comportamentos negativos que só dificultarão sua retomada normal ao trabalho. Seria como se os jogadores perdessem a cabeça e batessem no juiz. Eles poderiam ser alijados do campeonato ou até mesmo da profissão, com todas as conseqüências nefastas inerentes.

Encare sua demissão com sobriedade, calma, equilíbrio e frieza necessários. Como diz uma canção antiga: levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Ainda não fui à China, mas é sabido que na escrita chinesa existe uma letra (que eles chamam de ideograma) que representa, ao mesmo tempo, CRISE e OPORTUNIDADE. O significado varia para cada um que o lê, conforme seu estado de espírito ou como ele o quer ver.

A demissão para você, apesar de difícil, não terá sido ou estar sendo um grande momento de oportunidades? Pense e reflita sobre estes exemplos de oportunidades, não exatamente nessa ordem, que podem auxiliá-lo nessa reflexão: mudar de ramo, montar empresa própria, participar de concurso público, cuidar dos negócios da família, mudar de  profissão, montar uma cooperativa com os colegas de trabalho demitidos, voltar a estudar, mudar de cidade, ir para o mundo, montar um negócio familiar, buscar o mesmo tipo de emprego, criar serviços e novos hábitos, etc.

São muitas as oportunidades. Reflita o bastante antes de sair por aí simplesmente enviando currículos.

Autor: Paulo Pereira

Sócio-proprietário da Eventos RH e Especialista em Recursos Humanos
Fundador do Canal no Youtube Trabalho e Renda
Autor de 2 livros sobre o mercado de trabalho pela Editora Nobel

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