Quando pensamos em um trabalho ou na forma como poderemos obter uma renda que possa garantir o sustento e o conforto nosso e de nossos familiares, no presente e no futuro, a imagem mais freqüente que ainda vem à nossa mente é a do emprego convencional em uma grande e boa empresa, se possível, uma multinacional ou uma grande estatal.
De fato, não basta que seja apenas uma grande empresa multinacional ou uma grande estatal. Ela, para nossa tranqüilidade, precisaria ainda ter uma inequívoca política de RH, que contemple uma ótima remuneração, mais fixa do que variável, um plano de benefícios atraente, para nós e para nossos familiares.
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Preferencialmente, que os benefícios sejam em forma de fringe benefits (pacote de benefícios, se possível, com liberdade de escolha), que contemple várias de nossas necessidades, como, por exemplo: saúde, educação, lazer, transporte, alimentação, etc. Assim, poderemos livremente, escolher o médico, o dentista, a escola, etc., de nossa preferência ou, se for o caso, utilizar o montante dos recursos oferecidos pela empresa como benefícios para um ou outro de nossos gastos de que mais necessitamos.
Adicionalmente, a empresa de nossos sonhos como estas que normalmente nos vem à mente, certamente deveria possibilitar ganhos extras como, por exemplo, os agora em moda, paternalistas Planos de Participação nos Lucros e Resultados – PPR, que oferecem “ganhos” para todos, independentemente da efetiva participação de cada um na gestão e/ou nos resultados de sua área de trabalho ou da empresa.
Em algumas empresas, planos deste tipo são verdadeiros engodos, pois travestidos de Planos de Participação nos Lucros e Resultados, acabam sendo a forma que a empresa utiliza para reduzir o seu salário, fixo ou variável, muitas vezes até com a anuência de seu Sindicato. É uma das formas que muitas vêm utilizando para fugir do custo dos encargos trabalhistas e previdenciários entre eles o seu décimo terceiro, suas férias, seu fundo de garantia e suas verbas rescisórias.
Mas esperamos muito mais da empresa de nossos sonhos. Precisamos que ela nos ofereça perspectivas reais de desenvolvimento, realização e segurança profissional. Queremos poder participar, sem qualquer custo, de ótimos programas de treinamento e desenvolvimento, no Brasil e no exterior.
Idealizamos ainda que a empresa de nossos sonhos possua ótimos planos de previdência e de aposentadoria especiais, que complementem a nossa renda depois de aposentados e ela nos ofereça uma série de outros benefícios previdenciários adicionais.
Enfim, uma empresa na qual, confortavelmente, poderemos entregar e confiar a nossa carreira e o nosso futuro e o bem estar de nossos familiares, na segurança do contra-cheque no final do mês, no 13o. salário no final do ano, na certeza das merecidas férias anuais, na garantia FGTS e das verbas rescisórias na hipótese de um desligamento, nos benefícios adicionais conquistados pelo conjunto dos trabalhadores através de seus sindicados e/ou nos outros direitos assegurados em nossa anacrônica e igualmente paternalista legislação trabalhista.
Nada contra esse tipo de sonho, o do emprego convencional, com carteira assinada na forma da lei, ou os empregos camuflados, que nos obrigam a abrir uma empresa só para receber nosso salário através de nota fiscal, ou os exercidos através das falsas e combatidas cooperativas de trabalho, ou os estágios remunerados só de fachada e/ou ainda os suspeitos processos de terceirização.
O emprego tradicional legalizado, bem como os camuflados, abstraindo-se os aspectos da ilegalidade que não queremos aqui discutir, em muitos casos, pode acabar sendo para nós a melhor alternativa.
Entretanto, não devemos nos limitar a isso.
Precisamos ficar atentos, pensar, analisar e avaliar as várias outras formas de trabalho, além do emprego convencional, para os quais possuímos capacitação para serem desenvolvida e das quais nos poderemos valer ao longo de nossa trajetória profissional, às vezes simultânea e complementarmente com o emprego tradicional e convencional, pouco importando a condição contratual, que poderá ser de forma autônoma, com vínculo empregatício para inglês ver, como empresário, em regime de cooperativa de trabalho ou sob outras maneiras legalmente disponíveis e ao nosso alcance.
Ao fazer esta avaliação e análise, considere o seguinte: As empresas, em todo o mundo, com raríssimas exceções, continuam “maltratando” muito os seus trabalhadores, com as suas reengenharias, downsizing, terceirização, quarteirização, privatização, parcerias e outras “modas” que surgem a todo o momento, promovendo cortes e ajustes, muitas vezes precipitados, colocando um enorme contingente desses trabalhadores na “rua da amargura”, de uma hora para outra, de forma implacável e, em muitas situações de forma humilhante e traumática.
Em muitas ocasiões, são utilizados critérios duvidosos de escolha para esses desligamentos e em algumas situações lança-se mão de expedientes vergonhosos e humilhantes de escolha e de comunicação de dispensa.
Não é nem um pouco agradável, depois de tantos anos dedicados a uma empresa, um trabalhador se ver desligado através de emissoras de rádios, listas em jornais, comunicado do sindicato ou por uma lacônica correspondência furtivamente endereçada à sua residência.
Para adoçar o remédio, muitas empresas lançam mão de saudáveis, necessários e adequados processos de desligamentos voluntários, chamados PDVs, nos quais os trabalhadores percebem oportunidades (até mesmo legitimamente aconselhados por verdadeiros líderes) para uma planejada mudança de carreira, por conta própria ou transferindo-se para outra empresa, podendo fazer a sua adesão de forma espontânea.
Nem sempre esse tipo de programa é algo saudável. Existem programas, do mesmo gênero e finalidade travestidos de PDVs, que, associados a um orquestrado esquema de pressão psicológica e terrorismo exercido pelos representantes da empresa sobre aqueles trabalhadores dos quais eles simplesmente gostariam de se ver livres, por razões econômicas, por desempenho ou intrigas, ameaças e conflitos pessoais.
Assim, tais programas acabam se transformando na única opção de “escolha” para muitos trabalhadores, perdendo o aspecto da voluntariedade do programa e se transformando num processo de autoimolação.
Em nosso país persiste a sensação no empresariado em geral de que ele ainda não é mundialmente competitivo por causa do chamado “Custo Brasil”, normalmente associado ao peso dos encargos trabalhistas e outros direitos dos trabalhadores, numa alusão de que o emprego é algo insuportável para as empresas em geral, sugerindo medidas que quase sempre visam atingir o bolso do pobre do trabalhador empregado, muitas delas ilegais através das práticas de contratações fraudulentas, anteriormente mencionadas e dos desligamentos.
Diante disto tudo, será que vale a pena ficarmos só procurando um novo emprego, na forma convencional, e continuar correndo os mesmos riscos? Será que devemos nos preparar (ou “nossos filhos”) só para conseguirmos um “bom emprego” no futuro? Ou será que é chegada a hora de procurarmos outras alternativas lícitas, tão compensadoras, gratificantes e realizadoras quanto o tradicional emprego para ganharmos nosso sustento?
Na verdade, muitos de nós não estamos habituados e nem fomos educados e formados, tanto em casa como, infelizmente, nas escolas, em todos os níveis, a pensar e analisar uma série de outras formas de trabalho tão ou mais gratificantes compensadoras e realizadoras que o emprego convencional.
Em casa, porque nossos pais também foram “vítimas” do mesmo tipo de comportamento, herdado de seus pais. Nas escolas em geral, em todos os níveis, com exceção de algumas “ilhas de excelência”, não há um compromisso, nem uma preocupação com a necessidade de aprendizado e preparação dos alunos com os assuntos de carreira, vocação profissional e mercado de trabalho. O papel que elas assumem é o de formar o aluno nas competências para o exercício da profissão escolhida, quando conseguem, é claro. Raramente se preocupam com o mínimo do preparo que deve ser dado ao aluno, a meu ver, para se posicionar adequadamente mercado de trabalho.
Todo o aprendizado que é passado durante os anos escolares o é de uma forma desvinculada de potenciais necessidades e aplicabilidade futura no mercado de trabalho. Até a conclusão do ensino médio, ou seja, durante 11 anos ou mais de aprendizado, a questão praticamente não é discutida e analisada. Algo é feito, en passant, na época de faculdade.
Resultado flagrante: recém-formados, de nível médio ou superior, tecnicamente preparados, mas desorientados sobre qual melhor caminho seguir para transformar seu aprendizado em fonte de renda.
Em minha opinião, tanto os pais como as escolas, ao longo dos anos de aprendizado e desenvolvimento, precisam refletir e discutir, respectivamente com seus filhos e alunos, em doses homeopáticas e desde a mais tenra idade, conforme o seu nível de compreensão e desenvolvimento, assuntos e informações relacionadas com carreira, profissões, vocação e mercado de trabalho em geral.
Assim, a meu ver, todo o esforço do aprendizado pode fazer mais sentido na vida deles, despertando mais interesse e preparando-os para decisões mais objetivas para quando concluirem a sua formação e enfrentar o mercado de trabalho.
Voltando ao tema central deste item, Emprego e Salário x Trabalho e Renda?,
por esta espécie de “vícios de conduta”, dificilmente paramos para avaliar quais as outras maneiras, em forma de desenvolvimento de produtos e/ou de prestação de serviços seríamos capazes de desenvolver, sem nos preocuparmos em ter ou não a carteira de trabalho assinada.
É bem possível que, se pararmos para verificar quantas outras alternativas de trabalho poderíamos ter desempenhado no passado, estar desempenhando no presente e que poderemos desempenhar no futuro, haveremos de constatar que canalizamos esforços e nos submetemos a uma série de sacrifícios com a nossa formação acadêmica e profissional, senão totalmente perdidos ou desnecessários, provavelmente inadequados ou em vão.
A sensação que podemos ter é a de que nos preparamos exclusivamente para a conquista e manutenção de um ótimo emprego.
De repente, poderemos ter passado a vida toda nos preparando para sermos “dinossauros”, em termos de utilidade profissional. A frustração aumenta quando se percebe que todos os esforços nada tinham a ver com a nossa vocação, idealismo ou interesse – quer pessoal ou profissional.
Você deve refletir muito sobre isso para tomar uma decisão, principalmente se, de fato, tem as condições mínimas para poder fazer esta escolha. Considere ainda que sempre houve e continuará havendo muitas excelentes oportunidades de trabalho, em forma de emprego, muito mais interessantes que qualquer negócio próprio, de pequeno e até mesmo de médio porte. É uma questão de prospecção e até mesmo de sorte, mas existem.
Também não seja ingênuo, acreditando que ser “dono do próprio nariz”, a qualquer preço, é melhor do que trabalhar como empregado.
Lembre-se: estamos no Brasil. Um país com uma legislação complexa e exageradamente burocrática, uma carga tributária sufocante, juros fora da realidade mundial, estabilidade econômica sustentada por medidas legais e artificiais, políticas contencionistas e protecionistas altamente manipuladas ao gosto dos governantes e políticos de toda espécie.
Portanto, ser “dono do próprio nariz” neste ambiente requer do profissional vocação especial para o negócio, recursos financeiros para sustentar e fazer vingar o projeto, habilidade e conhecimentos reciclados constantemente, muita garra e determinação, muito “jogo de cintura”, capacidade de negociação, antena ligada com o macro ambiente e muita disposição para correr riscos. Sem esses requisitos o empreendimento torna-se uma aventura, com chances mínimas de prosperar.
Não importa a sua escolha. Você poderá ser feliz em qualquer uma delas. O importante é que você passe a avaliar também outras alternativas e maneiras para conseguir o seu sustento e de seus famílias, que lhe dêem, igualmente, a sua realização profissional, além do emprego tradicional e convencional.
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Sócio-proprietário da Eventos RH e Especialista em Recursos Humanos
Fundador do Canal no Youtube Trabalho e Renda
Autor de 2 livros sobre o mercado de trabalho pela Editora Nobel