Como o Melhoria Contínua pode ser um caminho para as organizações pensarem a preparação para a aposentadoria
O programa e os conceitos que sustentam a preparação para a aposentadoria nos remeteram a alguns questionamentos, motivando-nos à criação, no ano de 1995, do Programa Melhoria Contínua Vida e Trabalho, voltado para a sensibilização das organizações empresariais quanto:
- às oportunidades existentes no cotidiano de trabalho que facilitam o planejamento da vida pelas pessoas, durante o vínculo de trabalho;
- a importância do uso do tempo no trabalho e nos espaços sociais para uma vivência em todas as dimensões do ser, ao longo da carreira
- a verificação de ROI em ações que viabilizam tais oportunidades.
Desde aquela época vimos disseminando o conceito e a sua viabilização em inúmeras organizações clientes; a primeira foi Correios (1996) e depois, Furnas Centrais Elétricas, ambas em âmbito nacional (1998), seguidas por centenas de outras empresas participantes de eventos abertos.
O que é a aposentadoria?
Nosso primeiro questionamento foi: o que é a aposentadoria? Até o final da década de 70, a aposentadoria ainda era associada à velhice, perda dos espaços de sociabilidade conquistados com os ganhos obtidos pelo trabalho, à falência da saúde física, emocional, intelectual…
Qual a efetividade das ações para um período próximo da aposentadoria?
Assim sendo, indagamos: qual a efetividade de um programa de preparação com ações previstas para um período próximo da aposentadoria, no qual o destaque seria a “auditoria da qualidade de vida”, que indicaria gaps e as correções necessárias para o alcance de níveis desejáveis nos indicadores de saúde a maioria relacionados a um estilo de vida inadequado praticado ao longo da vida?
Qual o peso do estilo de vida na nossa qualidade de vida?
O terceiro questionamento: qual o peso do estilo de vida na qualidade de vida? Sabe-se que o estilo de vida é 50% responsável pela qualidade da nossa vida e que, segundo a Organização Mundial da Saúde , qualidade de vida é: “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele viva e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações…”
Pelo exposto, inferimos que qualidade de vida é resultado de autogestão. Cada um define a qualidade para a sua vida.
Uma avaliação da qualidade de vida realizada entre os 50 e 60 anos de idade vai encontrar resultados decorrentes de estilo de vida enraizado ao longo da vida que poderá ser melhorado, mas com grandes dificuldades.
Qual a relevância deste processo de saída para as organizações?
Por outro lado, considerando o que é importante para as organizações:
- Oxigenação do time que é um dos seus fatores-críticos de sucesso e que tal renovação não deve acontecer simplesmente com demissões e sim, com a implementação de um amplo processo de preparação das pessoas para transição e mudança do curso de suas vidas;
- O reconhecimento do valor agregado ao negócio deixado por seus colaboradores ao longo da carreira, e também manter os demais colaboradores motivados, a saída desses colaboradores sem um processo de preparação poderia representar para a empresa:
– Perda de “know-how” de profissionais diferenciados, muitas vezes específico ao segmento de negócio da empresa,
-Desequilíbrio no clima interno, provocando nos colaboradores mais jovens o sentimento de temor, vinculado a um prazo pré-determinado para a sua saída, podendo gerar reações de apatia, acomodação,
-Arranhões na imagem institucional, uma vez que os colaboradores ao saírem com sentimento de perda, não propagarão uma imagem positiva da organização, junto ao público externo.
E para os colaboradores?
Para os colaboradores, ficam as perdas: de status, da identidade institucional e da remuneração, entre outras.
Assim, a proposta de “Melhoria Contínua Vida e Trabalho” é a de um processo e como tal em constante realimentação.
O conceito de “Melhoria Contínua Vida e Trabalho”
• Busca incessante de melhoria, representada por mudanças pequenas e contínuas, para a vida e o trabalho. Tais melhorias efetivadas a partir da tomada de consciência individual, quanto à qualidade pretendida para a vida e o trabalho, requerendo o encontro entre motivos pessoais e ações externas, propiciadas pelo ambiente de trabalho e com o apoio dos diversos meios de comunicação interna.
A “Melhoria Contínua Vida e Trabalho” pressupõe:
- Consideração do ser humano em todas as suas dimensões: física,intelectual, emocional, social,espiritual e financeira;
- Entendimento da vida como um processo evolutivo;
- Eliminação da visão do ser humano segmentado por idade (1ª, 2ª,3ª…),o que possibilita um planejamento a longo prazo para ser cumprido ao longo da vida e não, de forma corretiva, por ocasião do desligamento ou da aposentadoria e
- Necessidade do início do processo de educação, no qual haja a inserção de informações sobre o ser humano que vivendo desenvolve suas potencialidades, exerce papéis como cidadão, enquanto envelhece.
Mas afinal, qual é a disrupção?
A proposta pressupõe o seu início no período de Integração (Inbound e Onboarding), prolongando-se durante a permanência na organização, até a saída. Considerando a diversidade dos participantes em termos de tempo de permanência na empresa e idade, o programa pode ser desenvolvido em dois níveis:
- PREVENTIVO, para os colaboradores a partir da admissão na organização e
- CORRETIVO, para os colaboradores em vias de aposentadoria (PPA).
A abordagem deste programa composto por módulos compreende questões tais como:
- Carreira;
- Cidadania;
- Comunicação;
- Educação;
- Empreendedorismo;
- Envelhecimento ativo;
- Finanças;
- Gestão e liderança;
- Motivação;
- Relacionamentos interpessoais;
- Remuneração;
- Saúde Integral,
- Seguridade, entre outras, distribuídas em módulos, mas com uma abordagem holística.
Uma característica importante: a adesão do colaborador deve ser espontânea; ele escolhe qual desses módulos acessará e quando, mas o processo será monitorado pela área de Gestão de Pessoas quanto à frequência e resultados da aplicação no trabalho, compartilhado com a liderança.
Na atualidade, a mudança do perfil demográfico quanto à longevidade,como em nosso país, é mais um fator impulsor para planejamento de ações de longo prazo uma vez que viveremos mais; mas com que qualidade de vida?
Autora: Jorgete Lemos
Consultora Diretora Executiva da Jorgete Lemos Pesquisas & Serviços e Parceira da Eventos RH
Diretora da ABRH Brasil